Diante de poderosos, Porto e Benfica se firmam como máquinas de negócio
Rivais de PSG e Barcelona na segunda rodada, portugueses buscam se manter em evidência com vendas exorbitantes como as de Falcao, Hulk...
Os portugueses não têm nem de longe os mesmos recursos e receitas de gigantes do continente, mas buscam se manter em evidência através dos negócios. E aí não há clube que se reinvente e fature tanto - ao menos proporcionalmente - na última década como os encarnados e, principalmente, os dragões. Muito graças ao mercado sul-americano, recheado de brasileiros, argentinos e até colombianos com talento de sobra para brilharem em gramados europeus desde os tempos de Deco até Falcao García, passando por David Luiz e Ramires.
O Porto, que receberá o PSG de Ibrahimovic e Thiago Silva no Estádio do Dragão, na quarta-feira, possui um histórico de vendas exorbitantes. Poucos se lembram, por exemplo, que os laterais Paulo Ferreira e José Bosingwa, presentes no elenco campeão da mesma Champions com o Chelsea em maio, renderam 33 milhões de libras juntos. Se colocado na mesma conta, o zagueiro Ricardo Carvalho, revelado pelo próprio Porto, eleva o lucro para 59,4 milhões de libras (quase R$ 200 milhões na cotação atual). Até mesmo o técnico André Villas-Boas rendeu ao clube € 15 milhões (R$ 34 milhões) em 2011, quando o mesmo Chelsea de Roman Abramovich aceitou pagar o valor de sua multa rescisória.
Como explicar?
Animado com a oportunidade de receber o Barcelona nesta terça-feira, no Estádio da Luz, o Benfica não tem um histórico tão impressionante quanto o do Porto. Mas, desde 2010, orgulha-se de ter lucrado milhões em números estratoféricos com as transações de Di María (Real Madrid), Fábio Coentrão (Real Madrid), David Luiz (Chelsea), Ramires (Chelsea), Axel Witsel (Zenit) e Javi García (Manchester City). Para especialistas, alguns fatores podem ajudar a explicar o sucesso dessa metodologia.
- A lógica dos clubes só pode ser essa. Porto e Benfica são os clubes que tentam comprar jogadores talentosos, jovens, muitas vezes com ajudas de parcerias (fundos de investimento). Valorizam os atletas durante dois, três anos com a ajuda das competições europeias e vendem pelo triplo ou quádruplo do preço - resumiu Sérgio Krithinas, jornalista do diário "A Bola".
Para ele, as semelhanças do país ibérico com a América do Sul são fundamentais no processo.
- O mais importante é o cultural. A língua é igual à do Brasil e muito parecida ao castelhano. Além disso, Portugal é um país que recebe bem estrangeiros, não há casos de racismo grave como na Itália, Inglaterra ou Rússia, por exemplo. E o clima é muito mais ameno do que na Alemanha ou Holanda. Junte a isso a dificuldade de se achar grandes revelações por aqui e pronto: você já tem estabelecido o seu alvo - opinou.
Especialista em marketing esportivo, Amir Somoggi concorda e ainda lamenta que clubes brasileiros se desfaçam de seus jogadores com relativa facilidade.
- Os portugueses são mais inteligentes na forma de abordar o mercado brasileiro do que nos grandes centros. Têm a conexão com empresários, fundos e conseguem trazer vários "desconhecidos" que acabam despontando. Se Barcelona, Real Madrid e Manchester United checassem o mercado daqui com frequência não precisariam comprá-los já de Porto e Benfica. São clubes com muito poderio financeiro, mas que não enxergam como os portugueses. É triste para nós, porque vendemos matéria-prima barata para ser valorizada na Europa - afirmou Somoggi.
A barreira entre lusos e gigantes
Mas, por que os dois já não conseguem há tempos se colocar entre os protagonistas do continente? O Porto tem no currículo recente um título da Liga Europa, em 2011, mas chegou às fases finais da Liga dos Campeões pela última vez em 2004, justamente no ano em que levantou o troféu ao superar o Monaco. Amir Somoggi desconfia que o sucesso dentro das quatro linhas não seja lá a maior prioridade dos portugueses no continente.
- O objetivo de um Barça, Real, é diferente do Porto. Quando querem contratar vão lá e contratam, fazem dívidas. Para mim, está muito claro que quem lida com o Porto, Benfica e seus negócios está ganhando uma fortuna de dinheiro - completou Somoggi.
Se as receitas com jogadores é animadora, o que difere Porto e Benfica dos demais está no global. Em comparação com Barcelona e Real Madrid, por exemplo, os valores recebidos por televisão não chegam a um décimo - os espanhóis faturaram mais de € 140 milhões cada em 2010/2011, contra € 11,4 milhões do Porto e € 8,4 milhões do Benfica.
- Portugal tem um faturamento muito fraco. As diferenças de salários são brutais. Em Portugal, há poucos que recebiam € 1 milhão (R$ 2,6 milhões) por ano. O Witsel, por exemplo, ganhava isso no Benfica e foi para a Rússia receber quatro vezes mais. Quanto à TV, o Benfica está exigindo € 30 milhões (R$ 78 milhões) para renovar o atual contrato. Basta ver que qualquer clube de meio de tabela da Inglaterra fatura mais do que isso - encerrou Krithinas.
O futuro, no entanto, reserva opções para ambos seguirem com suas filosofias - e felizes com os objetivos alcançados. No Porto, o próximo a ser vendido deverá ser o meio-campista João Moutinho, que já esteve muito próximo do Tottenham. No Benfica, o brasileiro naturalizado espanhol Rodrigo Moreno parece ser a bola da vez. Resta aguardar a abertura da próxima janela.
Da América do Sul, Falcao García e Hulk renderam títulos e muitos milhões ao Porto |
É muito dinheiro até para o PSG, que gastou € 147 milhões (R$ 383,6 milhões) na última janela de transferências. E olha que os três citados não figuram sequer entre as três maiores vendas do clube, todas feitas sob o mandato do presidente Pinto da Costa - desde 1982 no poder. Com ele, o Porto conquistou os seus primeiros e únicos cinco títulos continentais, além de dois Mundiais Interclubes e, posteriormente, chegou às transações recordes de sua história.
Em 2009, o Porto comprou o colombiano Falcao García do River Plate por € 5,4 milhões e o vendeu por € 47 milhões ao Atlético de Madri dois anos depois. Chegaria, então, a vez de Hulk, o jogador mais caro da história do Dragão. Repartido entre empresários, o brasileiro custou um total de € 19 milhões aos lusos, mas rendeu € 55 milhões (cerca de R$ 140 milhões) no início de setembro depois de o Zenit investir pesado no reforço.Como explicar?
Animado com a oportunidade de receber o Barcelona nesta terça-feira, no Estádio da Luz, o Benfica não tem um histórico tão impressionante quanto o do Porto. Mas, desde 2010, orgulha-se de ter lucrado milhões em números estratoféricos com as transações de Di María (Real Madrid), Fábio Coentrão (Real Madrid), David Luiz (Chelsea), Ramires (Chelsea), Axel Witsel (Zenit) e Javi García (Manchester City). Para especialistas, alguns fatores podem ajudar a explicar o sucesso dessa metodologia.
Ramires e David Luiz deixaram o Benfica para levantarem a Liga dos Campeões pelo Chelsea |
- O mais importante é o cultural. A língua é igual à do Brasil e muito parecida ao castelhano. Além disso, Portugal é um país que recebe bem estrangeiros, não há casos de racismo grave como na Itália, Inglaterra ou Rússia, por exemplo. E o clima é muito mais ameno do que na Alemanha ou Holanda. Junte a isso a dificuldade de se achar grandes revelações por aqui e pronto: você já tem estabelecido o seu alvo - opinou.
Especialista em marketing esportivo, Amir Somoggi concorda e ainda lamenta que clubes brasileiros se desfaçam de seus jogadores com relativa facilidade.
- Os portugueses são mais inteligentes na forma de abordar o mercado brasileiro do que nos grandes centros. Têm a conexão com empresários, fundos e conseguem trazer vários "desconhecidos" que acabam despontando. Se Barcelona, Real Madrid e Manchester United checassem o mercado daqui com frequência não precisariam comprá-los já de Porto e Benfica. São clubes com muito poderio financeiro, mas que não enxergam como os portugueses. É triste para nós, porque vendemos matéria-prima barata para ser valorizada na Europa - afirmou Somoggi.
A barreira entre lusos e gigantes
Mas, por que os dois já não conseguem há tempos se colocar entre os protagonistas do continente? O Porto tem no currículo recente um título da Liga Europa, em 2011, mas chegou às fases finais da Liga dos Campeões pela última vez em 2004, justamente no ano em que levantou o troféu ao superar o Monaco. Amir Somoggi desconfia que o sucesso dentro das quatro linhas não seja lá a maior prioridade dos portugueses no continente.
Di María e David Luiz em tempos de Benfica |
Para mim está muito claro que quem lida com o Porto, Benfica e seus negócios está ganhando uma fortuna de dinheiro"
Amir Somoggi, especialista em marketing esportivo
- Portugal tem um faturamento muito fraco. As diferenças de salários são brutais. Em Portugal, há poucos que recebiam € 1 milhão (R$ 2,6 milhões) por ano. O Witsel, por exemplo, ganhava isso no Benfica e foi para a Rússia receber quatro vezes mais. Quanto à TV, o Benfica está exigindo € 30 milhões (R$ 78 milhões) para renovar o atual contrato. Basta ver que qualquer clube de meio de tabela da Inglaterra fatura mais do que isso - encerrou Krithinas.
O futuro, no entanto, reserva opções para ambos seguirem com suas filosofias - e felizes com os objetivos alcançados. No Porto, o próximo a ser vendido deverá ser o meio-campista João Moutinho, que já esteve muito próximo do Tottenham. No Benfica, o brasileiro naturalizado espanhol Rodrigo Moreno parece ser a bola da vez. Resta aguardar a abertura da próxima janela.