Médicos acreditavam em recuperação de Alex Alves até véspera da morte
Rodrigo Durão CoelhoDo UOL, em São Paulo
O chefe da equipe médica que tratou do ex-jogador Alex Alves, morto na manhã desta quarta-feira por falência múltipla de órgãos após transplante de medula óssea, disse que acreditou na recuperação do jogador até o dia anterior. Alex sofria de doença rara, hemoglobinúria paroxística noturna (HPN), e foi submetido a um transplante de medula óssea no dia 5 de outubro.
“Sabíamos que a recuperação seria longa, mas o tempo todo acreditávamos que a rejeição da nova medula seria superada. Ele apresentou uma piora nos últimos cinco dias, mas até ontem, quando piorou muito durante a madrugada, eu pensei que ele iria conseguir. Ele estava consciente”, disse ao UOL Esporte o hematologista Mair Pedro de Souza, do hospital Amaral Carvalho, em Jaú.O hospital é referência em transplante de medulas no país. A equipe diz que, ao contrário do que foi noticiado, todo o tratamento de Alex Alves foi pago pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Se falou que um grupo de jogadores pagava por seu tratamento, mas garanto que ele não gastou um centavo para fazer o transplante”, disse Mair.
O médico explica que se o transplante tivesse acontecido antes, possivelmente iria ter o mesmo resultado, já que o doador seria o mesmo, o irmão do atleta. “Claro que existia uma chance levemente maior já que ele era mais novo e, talvez, mais forte, mas é difícil dizer.”
É comum ocorrer rejeição em transplantes de medula óssea, mas ela geralmente acontece em um grau mais ameno. A rejeição pode ser classificada de um (mais branda) até quatro (severa). Alex Alves apresentou rejeição de grau quatro.
O médico disse que o humor de Alex Alves oscilou durante o mês em que esteve hospitalizado. “Mensagens de torcedores às vezes o animavam, em outras horas o entristeciam, porque ele não sabia se conseguiria corresponder a todo o carinho.”
O jogador começou a receber tratamento em fins de 2007 e apresentou melhoras a ponto de acreditar que conseguira evitar o transplante e seguiu jogando – seu último clube foi o União Rondonópolis em 2010. Mas uma piora recente, quando chegou a ter que fazer transfusões de sangue cada vez mais frequentes (a cada três semanas, segundo o médico) e sofrer os efeitos colaterais decorrentes -como excesso de ferro- o levaram a optar pela cirurgia.
“Ele sempre foi muito consciente, articulado e entendia bem os riscos envolvidos. Ele falava que gostaria de fazer um jogo de despedida no Mineirão, para que sua filha que mora em Belo Horizonte pudesse vê-lo jogar. E falava com muita afeição do Cruzeiro”, disse o médico.
Revelado nas categorias de base do Vitória, Alex se destacou não só pelo bom futebol, marcado por arrancadas velozes e oportunismo na área, mas também pelos cuidados com a beleza, que o transformaram no primeiro jogador brasileiro a ser reconhecido como "metrossexual", na linha do craque inglês David Beckham.
Além do Vitória, defendeu também Palmeiras, Portuguesa, Cruzeiro, Hertha Berlim, Atlético-MG, Vasco, Boavista, Fortaleza, Kavala, da Grécia, e União Rondonópolis. No currículo, tem o Brasileiro de 1994, como reserva do Palmeiras, além dos vices nacionais por Vitória, em 1993, Portuguesa, em 1996, e Cruzeiro, em 1998.