Ex-funcionários do Palmeiras apontam Scolari como culpado pelo rebaixamento
Danilo LavieriDo UOL, em São Paulo
No Palmeiras, há uma tentativa de identificar os culpados pelo rebaixamento. A diretoria fala em não centralizar a crise em uma só pessoa, mas não deixa de elaborar listas de dispensa e falar, mesmo que em tom informal, que boa parte da culpa é de Luiz Felipe Scolari. Ex-funcionários do clube, no entanto, não temem apontar o pentacampeão com a seleção brasileira como o grande responsável pelo fracasso da equipe alviverde nesta temporada
Tudo por causa do tom pouco flexível que adotava na hora de comandar. Para Scolari, não existe o meio termo: ou uma pessoa é sua amiga ou é sua inimiga. Os que escolhem o lado da amizade, ele defende com unhas e dentes, como explica um dos funcionários que ainda está na Academia de Futebol e não quis se identificar.
Outros, no entanto, não admitem, até hoje, o jeito que foram tratados e, pior, a maneira com que o presidente Arnaldo Tirone entregou o clube e atendeu a todos os pedidos do treinador que cabiam nos cofres do Palmeiras.
“O Kleina está de parabéns. Sem contratar nenhum jogador, ele fez o time jogar melhor e sabe por quê? Porque deu apoio para os meninos da base e colocou para jogar. A mesma base que o Felipão disse que não tinha nada que prestava. Trabalhar com a base dá muito trabalho, e olha que ele tinha dois auxiliares (Galeano e Murtosa). Eles só sabem que existe o CT de Guarulhos porque passavam lá nas viagens internacionais que faziam”, disse o ex-gerente administrativo Sérgio do Prado, que continuou.
“Quase destruíram o Palmeiras, só não destruíram porque é um gigante mundial. Os três principais responsáveis são Arnaldo Tirone, Marcos Galeano e Felipão. O resto é desvio de responsabilidade. Isso sem contar o rebaixamento da Série A2 do time B. Falam que poupar atrapalhou o time. Mas e o Corinthians? Que poupou mais e por mais tempo e está quase no G-4 e foi campeão da Libertadores? Isso porque contrataram 33 jogadores. Como disse Ronaldo Fenômeno, colheram o que plantaram”, cutucou o hoje diretor do Santo André e companheiro de Felipão em 2010 e 2011 na Academia de Futebol.
O tom ditatorial e a lealdade, aliás, geraram problemas com boa parte do elenco. O episódio que fez parte dos jogadores deixarem de ter apoio incondicional a Felipão foi a saída de Pierre. O comandante aceitou a ideia de Galeano de que o volante não serviria para o elenco e permitiu que seu auxiliar o negociasse com Atlético-PR, Vasco e Atlético-MG. No fim, conseguiu a troca com o meia Daniel Carvalho.“Quem sempre mandou no Palmeiras foi o Felipão, já que o Tirone se escondia na sombra dele e sempre se submetia às exigências. O Galeano, que era volante, afastou dois jogadores da mesma posição dele: Pierre e Souza. Mal sabiam que cavaram a própria desgraça com o afastamento do Pierre do jeito que fizeram. Eles empurraram o atleta para o Vasco mesmo machucado, depois para o Atlético-PR. O Pierre chegou até a pensar em ir às vias de fato com o Galeano, mas não deixaram. Ainda deixaram ele várias vezes no banco com a camisa 200, quando seria homenageado pela família e pela torcida. Foi uma tortura psicológica. O Pierre deixou o vestiário chorando e muita gente chorou com ele. Sobrou o ódio contra o Felipão. Ele ainda afastou Deola, Kleber, Wellington Paulista e Lincoln, sem contar o Cicinho, que ele considerava ‘normal’. Ainda negociavam o Valdivia com vários times a todos os momentos, mal sabiam que o chileno sabia de tudo. Como motivar jogador dessa forma?”, disse ele.
O ex-assessor de imprensa Marcelo Lia também afirmou que a “Família Scolari”, que geralmente é criada nos ambientes em que Felipão vai, jogou contra nesta temporada.
“Nosso relacionamento com o Felipão era tranquilo, porém bem mais distante e frio do que tivemos com Caio Jr., Luxemburgo, Jorginho, Muricy e Antonio Carlos. O Felipão sozinho era sorridente e feliz, mas mudava rapidamente ao lado de auxiliares e membros da comissão. Ele era muito influenciado, tinha esse defeito. Essas pessoas criaram um ambiente pesado, de divisão e intrigas. No nosso caso, a boa relação com os jornalistas e os constantes elogios ao trabalho não eram bem digeridos. Sabíamos de onde vinha a inveja e o que chegava aos ouvidos do Felipão, pois as mentiras circulavam a outras pessoas. Fiquei muito decepcionado porque foi o Felipão que pediu a nossa saída, assim como as dos departamentos jurídico e administrativo. Tiraram profissionais dos cargos, empobreceram a estrutura do clube e o Felipão é responsável direto por isso. A fofoca e a inveja venceram. E o dedo-duro ainda achava que prestava serviços ao Palmeiras”, disse ele ao UOL Esporte.
O ex-goleiro e ídolo do Palmeiras Valdir Joaquim de Moraes também admitiu que não ficou satisfeito com a sua saída do clube, feita a pedido também de Felipão e seu estafe. Em entrevista ao UOL Esporte na época em que o time ainda poderia escapar do rebaixamento, Valdir disse que torceria até o fim, mas lamentou o fato de não ter sido ouvido como gostaria.
“Não posso dizer que guardo mágoa do Palmeiras, porque é um clube que tenho muito carinho. Quando falaram que eu ia sair, não pedi explicação para ninguém, só conversei com o Frizzo. As pessoas passam, a instituição ficam. Eu não lamentei por não ter uma consideração maior, mas lamento porque nunca pude interferir em nada, nunca quiseram me ouvir e não fui consultado em nenhum momento. Em alguma hora, se me ouvissem, as coisas iam ser diferentes. Mas passou muito tempo e o carinho não vai mudar”, afirmou o ex-atleta.
A reportagem procurou Luiz Felipe Scolari por meio de sua assessoria, mas não obteve sucesso nas tentativas.