Por que Independiente não merecia cair, mas parte da torcida, sim
Só uma combinação de resultados evitaria o primeiro rebaixamento do Independiente neste sábado. O time precisaria vencer o clássico contra o San Lorenzo e contar com tropeços de San Martín (San Juan) e Argentinos Juniors diante de Estudiantes e Colón. Aconteceu tudo ao contrário. O Rey de Copas perdeu, e seus concorrentes venceram. A torcida chorou, mas parte dela tem responsabilidade nisso.
Evidentemente, a queda de um clube tão grande nunca é responsabilidade de apenas um fator. A diretoria foi incompetente na montagem do elenco, com contratações sem sentido e demora para acertar com um homem-gol que o ex-técnico Américo Gallego tanto pedia. A situação econômica também atrapalhou. Mas o que torna a situação do Independiente diferente das demais é que a torcida também tem um papel nessa queda.
Diante da crise administrativa do clube, os sócios elegeram Javier Cantero para a presidência do Rojo. Era dezembro de 2011. O novo mandachuva resolveu acabar com os benefícios oficiais às barras bravas (versão argentina das organizadas). A reação não foi boa.
O jornalista Gustavo Grabia, especialista em barras bravas do jornal Olé, já alertava para a possibilidade de rebaixamento do Independiente em entrevista à Trivela em julho de 2012, antes do início da atual temporada:
O Independiente era completamente dominado pela barra brava. Ela tinha o passe dos jogadores, o campo de treino. O chefe da torcida era o diretor da ONG de torcedores que o governo armou. Então, começaram a ganhar muito dinheiro e muito poder. E o Independiente era um desastre sob o controle da organizada. Ninguém queria ir mais lá, era muita violência. Então, o Javier Cantero fez uma campanha dizendo que tiraria a barra se votassem nele e ganhou.
Ele assumiu em dezembro de 2011 e tentou acertar as coisas com a torcida. Em março, descobri que ele ainda dava alguns benefícios. Até entendo que não dá para cortar tudo pela raiz, mas aí tem de explicar isso a todos. Ele dava muito menos que antes, mas ainda dava algo para mantê-los tranquilos. Quando publiquei a reportagem, ele admitiu publicamente seu erro, disse que acreditava que era uma forma de manter a barra brava controlada e que passaria a combater seriamente a partir dali. E, quando começou a fazer isso, as coisas ficaram piores.
São suspeitas, porque os jogadores negam. Mas, desde que o Cantero cortou todos os benefícios dos barras bravas, a equipe estranhamente começou a perder uma partida atrás da outra. Perguntam aos jogadores se estão sendo ameaçados pela torcida, exigindo que entreguem o jogo para derrubar o presidente. Eles dizem que não, mas não dá para saber se é verdade. Hoje, o time está brigando para não cair. Quando começar a próxima temporada, o Independiente estará em posição de rebaixamento direto pela média de pontos das últimas temporadas. E é o único clube, ao lado do Boca, que nunca caiu para a segunda divisão.
Como Grabia deixa evidente, não dá para dizer categoricamente que a barra brava fez o time perder pontos para tirar Cantero do poder. Mas é nítido como o rompimento influenciou negativamente a campanha do time (essa matéria de novembro de 2012 do site Futebol Portenho dá um bom exemplo). E foram as campanhas pós-rompimento que levaram o clube à B Nacional.
Os rebaixados de 2013 são definidos pela média de pontos por partida nas temporadas 2010/11, 11/12 e 12/13. Foram seis torneios. O primeiro deles foi tenebroso. A equipe se dedicou a tentar (com sucesso) o título da Copa Sul-Americana e terminou o Apertura 2010 na lanterna, com 14 pontos. No entanto, as duas campanhas seguintes foram boas, com 29 e 27 pontos, mantendo o bom nível da temporada 2009/10, quando o Independiente fez 34 pontos no Apertura e repetiu a cota no Clausura.
Veja no gráfico acima como a queda é brusca justamente no Clausura 2012, o primeiro torneio com Cantero no comando. E as três campanhas desde então que afundaram o clube. Pelo desempenho dos concorrentes, o Rojo escaparia se fizesse uma média de 24 pontos nos seis torneios. Nos três últimos, fez 20, 17 e 21. Aí não teve jeito…
Uma pena para o torcedor de verdade do Independiente, que não tem nada a ver com a crise entre a direção do clube e a barra brava e não poderá mais se orgulhar de ser um dos clubes que nunca caiu na Argentina (a partir da próxima temporada, o Boca Juniors será o único que sempre esteve na elite). Esse torcedor chorou a cada um dos jogos que levaram a essa queda, e ele também aplaudiu e apoiou a equipe hoje, após a derrota fatal para o San Lorenzo.
Que eles passem a dar o tom da relação do Independiente com seus seguidores
Evidentemente, a queda de um clube tão grande nunca é responsabilidade de apenas um fator. A diretoria foi incompetente na montagem do elenco, com contratações sem sentido e demora para acertar com um homem-gol que o ex-técnico Américo Gallego tanto pedia. A situação econômica também atrapalhou. Mas o que torna a situação do Independiente diferente das demais é que a torcida também tem um papel nessa queda.
Diante da crise administrativa do clube, os sócios elegeram Javier Cantero para a presidência do Rojo. Era dezembro de 2011. O novo mandachuva resolveu acabar com os benefícios oficiais às barras bravas (versão argentina das organizadas). A reação não foi boa.
O jornalista Gustavo Grabia, especialista em barras bravas do jornal Olé, já alertava para a possibilidade de rebaixamento do Independiente em entrevista à Trivela em julho de 2012, antes do início da atual temporada:
O Independiente era completamente dominado pela barra brava. Ela tinha o passe dos jogadores, o campo de treino. O chefe da torcida era o diretor da ONG de torcedores que o governo armou. Então, começaram a ganhar muito dinheiro e muito poder. E o Independiente era um desastre sob o controle da organizada. Ninguém queria ir mais lá, era muita violência. Então, o Javier Cantero fez uma campanha dizendo que tiraria a barra se votassem nele e ganhou.
Ele assumiu em dezembro de 2011 e tentou acertar as coisas com a torcida. Em março, descobri que ele ainda dava alguns benefícios. Até entendo que não dá para cortar tudo pela raiz, mas aí tem de explicar isso a todos. Ele dava muito menos que antes, mas ainda dava algo para mantê-los tranquilos. Quando publiquei a reportagem, ele admitiu publicamente seu erro, disse que acreditava que era uma forma de manter a barra brava controlada e que passaria a combater seriamente a partir dali. E, quando começou a fazer isso, as coisas ficaram piores.
São suspeitas, porque os jogadores negam. Mas, desde que o Cantero cortou todos os benefícios dos barras bravas, a equipe estranhamente começou a perder uma partida atrás da outra. Perguntam aos jogadores se estão sendo ameaçados pela torcida, exigindo que entreguem o jogo para derrubar o presidente. Eles dizem que não, mas não dá para saber se é verdade. Hoje, o time está brigando para não cair. Quando começar a próxima temporada, o Independiente estará em posição de rebaixamento direto pela média de pontos das últimas temporadas. E é o único clube, ao lado do Boca, que nunca caiu para a segunda divisão.
Como Grabia deixa evidente, não dá para dizer categoricamente que a barra brava fez o time perder pontos para tirar Cantero do poder. Mas é nítido como o rompimento influenciou negativamente a campanha do time (essa matéria de novembro de 2012 do site Futebol Portenho dá um bom exemplo). E foram as campanhas pós-rompimento que levaram o clube à B Nacional.
Os rebaixados de 2013 são definidos pela média de pontos por partida nas temporadas 2010/11, 11/12 e 12/13. Foram seis torneios. O primeiro deles foi tenebroso. A equipe se dedicou a tentar (com sucesso) o título da Copa Sul-Americana e terminou o Apertura 2010 na lanterna, com 14 pontos. No entanto, as duas campanhas seguintes foram boas, com 29 e 27 pontos, mantendo o bom nível da temporada 2009/10, quando o Independiente fez 34 pontos no Apertura e repetiu a cota no Clausura.
Veja no gráfico acima como a queda é brusca justamente no Clausura 2012, o primeiro torneio com Cantero no comando. E as três campanhas desde então que afundaram o clube. Pelo desempenho dos concorrentes, o Rojo escaparia se fizesse uma média de 24 pontos nos seis torneios. Nos três últimos, fez 20, 17 e 21. Aí não teve jeito…
Uma pena para o torcedor de verdade do Independiente, que não tem nada a ver com a crise entre a direção do clube e a barra brava e não poderá mais se orgulhar de ser um dos clubes que nunca caiu na Argentina (a partir da próxima temporada, o Boca Juniors será o único que sempre esteve na elite). Esse torcedor chorou a cada um dos jogos que levaram a essa queda, e ele também aplaudiu e apoiou a equipe hoje, após a derrota fatal para o San Lorenzo.
Que eles passem a dar o tom da relação do Independiente com seus seguidores