Messi solta palavrões e soca a mesa. Newell’s eliminado

Messi em Rosario: Newell's é a paixão do craqueMessi em Rosario: Newell's é a paixão do craque

O texto a seguir é uma ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
Aquele dia tinha demorado para passar. A noite chegou,ele recusou vários convites. Não queria fazer nada, não queria estar com ninguém. Era ele, em casa, em seu sofá confortável, a TV gigantesca e a ansiedade. O dia passou, a noite chegou, o relógio passava, mas nada de chegar o momento. Era chegado o momento. Camisa rubro-negra nas mãos. “Vamos, carajo!”, ele gritava vendo o time entrar vestido de branco, seu uniforme dois.
Lembrava de quando era criança e do choro no rosto nos seus irmãos mais velhos por uma derrota. A Libertadores de 1992 não veio. E essa seria uma lembrança dolorosa. Foi naquele mesmo ano que ele tinha começado a jogar, ainda com a bola sendo quase do seu tamanho. Viu o Newell’s ter problemas, conquistar alguns títulos, mas nunca chegar perto de uma glória como aquela na Copa, como chamam a Libertadores na Argentina.
Era noite de Libertadores e Messi, como bom sul-americano que é, não perde. Mais do que jogador, ele é um apaixonado. A origem italiana não deixa suas mãos ficarem paradas. A bola começa a rolar no estádio Independência e ele já rói as unhas. A namorada pergunta alguma coisa, ele não ouve. “Depois, depois”. Ela murmura uma reclamação, mas ele finge que não ouve.
Ela volta para a sala quando ouve um soco. Gol do Atlético. Messi aperta a camisa nas mãos. Não veste. Vestir dá azar. Superstição. Não existe torcedor que não tenha a sua. Não há torcedor de futebol ateu. Ou, ao menos, não há torcedor de futebol sem fé. Tomar um gol a dois minutos faz qualquer torcedor ficar desconfiado. Messi, tenso, olhava fixamente a TV. Balançava as pernas. Tique nervoso. Não falava. Murmurava alguma palavra quase sem nem perceber. Se preocupou ao ver Heinze sair, machucado. Foi seu companheiro. Torcida por ele. Como ele, era um torcedor. No banco, Heinze lamentava. Messi também.
A pressão do Atlético era grande e a tensão era enorme. Xingava em pensamento a cada cruzamento. Sentia o ar faltar a cada bola rondando a área. E agradeceu apertando a camisa e murmurando “Lepra” para si mesmo. “Foi bom”, pensou. Tomar um gol a dois minutos é para desmoronar qualquer estratégia, mas o time segurou-se como pode. Ainda assustou em um ou outro lance. Não estava ruim.
Começou o segundo tempo. O jogo mais morno era bom. Messi sorriu, de canto de olho. Olhava para o distintivo, fechava os olhos, parecendo rezar. Segurava a camisa nas mãos como um terço. O Newell’s ataca. Os jogadores se atrapalham e perdem a chance. Messi levantou, gritou. Colocou a camisa na boca. Sentou novamente. Balançava para frente e para trás.
Refletores apagam. Messi olha, atônito. Xinga,pega a primeira coisa que tem em mãos e atira no chão. Lá se foi o controle remoto. Que como todo controle remoto, sobrevive. Pega a água gelada – a esta altura já em temperatura ambiente – e toma algumas goladas rápidas. Sussurra cantos dos leprosos, baixo, como uma reza. A tensão no estádio Independência o acalma. Espera tudo dar certo.
O tempo passa, o jogo recomeça, mas quem se apaga é o Newell’s. O Atlético Mineiro se apega ao que vê pela frente, joga bolas na área de maneira desesperada, faz o abafa. Os leprosos se seguram. Messi faz movimentos com as mãos. Gritava para a defesa tirar. Apoiava o time dizendo palavras como “vamos, Lepra”. Viu mensagem do seu irmão no celular. “Vamos chegar lá, Leo! Vamos chegar lá!”. Não respondeu. Estava nervoso. Já se via 40 minutos no tempo de jogo, mas parecia que uma vida inteira ainda passaria até o fim do jogo. Esperar é um inferno.
Quando Luan jogou a bola na área e ele viu Diego Mateo livre, ficou tranquilo. Mas quando o volante afasta mal, ele só grita um “NO, NO, NO”. E quando o chute de Guilherme bate no fundo da rede, Messi grita mais “NO, NO, NO, NOOOOO” várias vezes. Fala palavrões, xinga, ameaça os jogadores, mas logo se cala. Sente a tensão, os minutos finais, o desespero. Deseja que o jogo acabe, mas não tem coragem de falar isso alto nem para si mesmo.
Acabou. Pênaltis. Messi aperta a camisa. Olha para os lados, como se procurasse alguma coisa que o fizesse crer, algo no qual se agarrar. Como se procurasse um sinal que tudo vai dar certo. Mais uma disputa como aquela com o Boca o faria passar mal. Já passava das cinco da manhã. Ficou pensando quem seriam os batedores. A TV falou em Maxi Rodríguez. Foi seu companheiro de seleção um dia. Viu que seria o último cobrador do Newell’s. Queria estar ali.
As cobranças se seguiam e Messi sentia a agonia e a garganta fechar quando os atleticanos marcavam seus gols. Sentiu uma ponta de esperança quando Jô cobrou para fora. Mas o erro em seguida logo tirou a esperança. Quando Richarlyson perdeu outra cobrança, nem ficou muito esperançoso. O canhoto, camisa 10 do Newell’s, era Cruzado, peruano. Talvez ele nunca saiba, mas Messi o invejou naquele momento. Ele queria ser o camisa 10. Ele queria cobrar o pênalti com a sua perna esquerda que tantos estragos já fez em defesas pelo mundo. Cruzado talvez nunca saiba, mas Messi o invejou. Quem diria.
Quando as cobranças se sucederam, chegou a vez de Ronaldinho. Seu amigo Ronaldinho. Lembrou de como o dentuço batia. Foi uma das poucas vezes que torceu contra aquele que um dia foi o seu mentor, seu parceiro de magia. Nunca torceu tanto para Ronaldinho errar. Nunca torceu tanto pela tristeza do amigo. Mas ele acertou. E ficou nos pés de Maxi Rodríguez. Aquele, seu companheiro. Torceu, torceu demais. De pé, dava pulinhos, como se estivesse aquecendo, se preparando para bater. Maxi correu para a bola, mas bateu mal. Victor pegou. Messi não gritou. Por poucos segundos, ficou imóvel. Não acreditava. Aquela dor que lembrava de criança, aquela sensação de devastação, tudo isso tinha voltado. Vendo os jogadores do Atlético comemorarem, soltou um sono “la concha de tu madre”. Prometeu a si mesmo que um dia estaria ali para fazer diferente. Um dia. Um dia.