Sanchez jura de pés juntos que não é candidato à CBF

Entrevista de Andrés Sanchez ao jornal Lance
Como você vê a CBF?
Eu enxergo hoje com muitos problemas. A saída do Ricardo Teixeira precocemente, de repente, trouxe problemas. Mas eles estão se adaptando e levando na medida do possível.
Quais tipos de problemas?
A saída de um presidente que estava há 23 anos e a chegada de um presidente novo com um monte de coisas da Copa em andamento. Qualquer um que entrasse teria dificuldade.
O que mudou da gestão Teixeira para a gestão Marin?
Eu não posso dizer especificamente o que mudou porque eu não vivia muito dentro da parte administrativa da CBF. Eles têm uma noção, um estilo de trabalho e uma visão do futebol diferente da que o Ricardo tem. Qualquer outra pessoa que entrar vai ter outra, vai ser sempre assim. Para melhor ou pior.
Mas melhorou ou piorou?
Se eu fosse presidente do clube, eu falaria. Acho que tem coisas que melhoraram e outras que pioraram.
Você encontrou com o Marin recentemente?
Duas ou três vezes desde que saí. Não tenho problema nenhum com Marin. Tenho uma boa relação com ele. É uma pessoa que eu respeito muito, sem problemas.
Das acusações que têm sido feitas, especialmente do caso do Herzog, você tem alguma opinião?
Triste. Mas na ditadura era assim. Hoje estamos em uma democracia e cada um que fez para lá ou fez para cá vai ter de pagar. Esse é um problema da Justiça, que eles vão resolver.
Qual a sua maior decepção na CBF?
Eles terem trocado o treinador da Seleção sem falar comigo.
Com quem foi a sua maior decepção?
Com Marco Polo Del Nero.
Qual sua relação com ele hoje?
Nenhuma.
O que você achou do Alexandre Kalil, do Atlético MG, ter ido para a reunião da Conmebol com a CBF?
Acho que é um direito dele, não tem nada demais. No futebol inventam coisa demais. Você acha que por ele ter ido lá o Atlético MG vai ser campeão? Não existe isso.
Como você vê o futebol brasileiro hoje?
Acho que estamos com uma dificuldade muito grande de achar um estilo e um padrão de jogo. Acho que temos a grande oportunidade da Copa para ver qual é o futebol que nós queremos. Os clubes, os dirigentes da CBF têm de ver o que querem para o futebol. Acho que é uma oportunidade de uma mudança drástica, para o bem do futebol.
Acredita no Felipão?
Eu era contra a saída do Mano. E com a saída, não colocaria o Felipão. Mas já que colocaram, acho que tem de ficar até o final da Copa. Mudar de novo vai ser um absurdo. Acho que ele é muito experiente, competente, tem totais condições de, ao lado do Parreira, montar um grande time.
Você imagina Dilma e Marin entrando juntos na abertura da Copa?
Quem define isso é a Fifa, a presidência e a parte do COL. Eles têm de conviver para o bem do Brasil.
A Folha de S. Paulo noticiou que Lula teria ligado para Marin. Você acredita que isso aconteceu?
Não há nenhuma possibilidade.
Você falou com ele sobre isso?
Não.
Faz falta o Clube dos 13?
Não, do jeito que estava não. Falta mais união entre os clubes. Mas um dia isso vai acontecer.
O Kalil disse que você que ganhou um estádio para destruir o Clube dos 13. É verdade?
Não, não é verdade. Tanto é que eu estou pagando por isso. Nunca vi ganhar e pagar. Eu não falei isso para ele. Eu nunca liguei uma coisa com a outra. Ele sabe por que eu sai do Clube dos 13. É um grande amigo meu, está fazendo um grande trabalho, mas se enganou nisso.
Você estava tentando articular uma liga entre os clubes?
De jeito nenhum, isso nunca foi verdade. Eu acho que os clubes têm de estar juntos, mais unidos. Mas tem que ser algo que vem de cima para baixo, com a chancela da CBF.
Você já se coloca como candidato à CBF?
Eu não sou candidato para a CBF.
Pretende ser?
Eu não sou candidato. Pretender eu não sei. Não sou candidato. Participo de reuniões de futebol, mas nunca falei que sou candidato. Fico lisonjeado de lembrarem de mim. Não estou trabalhando nesta hipótese.
Não?
Não.
Você encontrou com o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira, recentemente. Como foi?
Foi muito bom. Ele estava há pouco tempo, acho que o Flamengo tem muitas coisas em comum com o Corinthians. Discutimos um monte de coisas do futebol. Ele é novo e o futebol precisa se renovar. Está fazendo um bom trabalho. Claro que tem problemas, mas vai achar soluções.
Para qual tipo de articulação ele seria importante?
De que articulação você está falando?
Das suas…
Não tem. Eu tive com o Peter, do Fluminense, tive com outros presidentes. São meus amigos. Vejo bastante o presidente do Botafogo. Não tem nada. A gente discute bastante sobre o futebol. Só isso. Não fiz articulação de nada. Nem de CBF, nem de nada. Se tivesse feito, eu falaria. Quem vai fazer o candidato da CBF não sou eu, nem você. São as federações e os clubes. São eles que definem se querem mudanças. E definem o nome que querem. Se querem um novo ou uma continuidade.
Então, qual você acha que é o cenário para a próxima eleição?
Marco Polo como candidato único. É o que está se desenhando.
E o Rubens Lopes, da Ferj?
Pode ser que queira, mas está sempre junto com o Marco Polo, não sei. Mas qualquer pessoa dentro do futebol seria importante. Eu apoio qualquer um contra o Marco Polo.
Não existe a possibilidade de um racha no qual federações e clubes apóiem uma segunda chapa?
Lógico que existe. Quem quiser ser e conseguir isso daí, perfeito. Eu não estou trabalhando com esta hipótese. Tem de partir deles.
Tem de partir dos clubes e das federações, mas precisa ter alguém que tope ser candidato…
Se eles convidarem uma pessoa, qualquer cidadão brasileiro pode ser. Qualquer um. A vizinha do Marco Polo Del Nero, que já fez 18 anos, também pode ser.
Alguém chegou a te procurar?
Eu converso com todo mundo sempre. Alguns falaram meu nome e eu falei que não estava trabalhando com esta hipótese. E outros falaram outros nomes. Tem o Rubens Lopes, do Rio, tem o Ednaldo, da Bahia, e outros. Vamos definir lá na frente.
O Romário falou com você, para te convencer?
Não, ele falou que se tiver meu nome, ele me apoia. Assim como o Ronaldo falou. Como outros vão dizer. E como vão dizer de outras pessoas. E eu fico lisonjeado de lembrarem de mim. Mas não estou trabalhando com esta hipótese.
Se você fosse presidente da CBF…
Eu não sou candidato!
Mas se um dia fosse, vamos pensar, o que você mudaria?
Tem de chegar lá para ver. Não sou candidato, mas acho que o futebol brasileiro precisa resgatar sua transparência. Tem de mostrar tudo, apesar de ser uma empresa privada, não tem o que esconder. Todo mundo precisa saber o que recebe, o que paga, o que não paga. Isso existe no Corinthians, por exemplo.
R$ 130 mil de salário ao presidente da CBF é muito, pouco ou justo?
Difícil dizer. Desde que seja legalmente, quem tem de cobrar isso são as federações e os clubes. Para o país, é uma afronta.
Salários devem ser publicados?
Acho que o salário não deve ser público nunca. Cada um fala o que quer. Acho que isso é uma coisa restrita. Eu não tenho problema com isso. Falei o meu quando fui para a CBF. Vai da pessoa, eu falaria.
Quais clubes você acha que te apoiariam para a CBF?
Não sou candidato. Não sou candidato. Não sou candidato.
Eu entendi. Mas quais clubes colocariam seu nome para presidente da CBF?
O Corinthians.
E federações?
Não sei. Talvez a FPF (risos).
Acha que Marco Polo deveria te apoiar?
Se ele tivesse consciência, olhasse o trabalho que eu fiz… Pela relação que eu tinha com ele, ele sabe muito bem o que eu fiz no Corinthians, não teria motivo para não me apoiar.
Como está a sua relação com a Globo?
Normal. Sempre respeitei e sempre fui respeitado.
Calendário: acha que tem de mudar?
Acho que tem de melhorar, mas nunca se igualar ao calendário europeu. Eles têm lá uma discussão para passar o calendário deles para o nosso formato. Acho que temos de melhorar algumas coisas, mas não se adaptar ao europeu. São muitas coisas. Não pode o time chegar de férias e já ter de jogar, sem uma pré-temporada decente, por exemplo. A Seleção não pode jogar só com atletas do Brasil. Tem de jogar com os jogadores da Seleção Brasileira. Acho que algumas coisas têm de mudar.
Precisa mudar os Estaduais?
Tem de mudar, mas não sei te dizer uma maneira.
Você falou sobre ser a chance de “revolucionar” o futebol, pós Copa. O que você acha que pode mudar?
Mas se eu falar não fica bom, eu não sou candidato. Já te falei que não sou candidato. Se eu respondo, parece plataforma política. Todo mundo sabe onde está o defeito e o que tem de mudar. O que precisa é ter vontade política e deixar os interesses pessoais de lado e se dedicar a mudar.
O que acha do projeto do governo para as dívidas dos clubes?
Sou a favor. Mas os clubes que não cumprirem todas as regras devem ser punidos tecnicamente, com perda de pontos, perda de divisão. Sem isso, não vai ter validade nenhuma.
Federações e confederações devem estar dentro do pacote?
Acho que são duas coisas diferentes. Neste projeto, não devem estar. Elas podem estar em outro.
Para federações, acharia certo que a contrapartida fosse em relação ao tempo de mandato?
Sou contra mandato longo, mas sou um cara democrático. Tem de prevalecer a democracia. Se você é eleito para alguma coisa e as pessoas querem que você continue, não vejo mal nisso. Sou contra muito tempo. Acho que 8 anos é o suficiente.
Quando você era presidente do Corinthians, você divulgou no site os valores dos direitos econômicos dos jogadores. Mas depois tirou e…
Eu não tirei, eu só não coloquei os novos.
Não colocou por quê?
Eu não coloquei porque começaram a apenas discutir o que o Corinthians tinha colocado e não discutiam que os outros não tinham colocado. E eu fiquei meio chateado e pensei “já que vocês não estão cobrando dos outros e ficam só falando do Corinthians, eu não vou fazer mais”. Mas acho que é uma coisa que tem de ser feita. Na CBF eu queria colocar o nome dos empresários dos jogadores na lista de convocação, mas não deixaram. Isso era para acabar com toda a ladainha que se faz nas convocações. Adoram criar factoides. Ninguém na Seleção vai convocar A ou B, porque o empresário é X ou Y. Se eu acreditar que isso acontece, eu paro de ficar no futebol.
Acha que deveria ser iniciativa da CBF cobrar dos clubes que eles coloquem os direitos econômicos dos jogadores para o público ver?
Acho que sim, deveria ser papel da CBF.
Tem algum nome para a FPF?
Não.
Entre Vicente Cândido e Reinaldo, qual sua opção?
Para quê?
Para a presidência da FPF…
Mas eles são candidatos?
É um cenário possível…
Tão possível quanto o meu na CBF? Eu não sou candidato, eles também não. Deixa rolar. Acho que o Reinaldo tem grande experiência no futebol. O Vicente é do bem. Os dois têm condições.
E se o Juvenal Juvêncio, do SP, entrasse para a disputa?
Apoio o Juvenal cegamente.
Você tem falado com ele?
Faz tempo que não falo. Ele é um dos caras importantes que o futebol teve e tem. É um cara muito competente. Dizem que eu brigo com ele, mas não. Ele seria um grande nome, para qualquer cargo do futebol, não só para a FPF, mas para a CBF ou qualquer outra coisa.
E o Paulo Nobre, do Palmeiras, tem contato?
Tive depois da eleição, depois nunca mais. É um cara novo no futebol, que está trabalhando bastante. Espero que dê certo.
Quais são seus planos de vida?
Trabalhar, minha filha. Arrumar namorada, ir para o samba, cuidar dos meus filhos.
E quando acabar a arena, vai fazer o que da vida, se você não é candidato da CBF?
Eu não vou todo dia na arena, minha vida segue normalmente.
E o Corinthians, tem planos lá dentro?
Eu sou conselheiro vitalício, quando tem alguma coisa eu participo. E quando me chamam, eu dou minha opinião.
Mas não tem nenhum projeto?
Não, nenhum.
Se te chamarem para a CBF, você vai?
Tenho que ver quais são as condições.
Quais condições seriam?
Se vai ter que ter algum acordo. No futebol tudo funciona assim. Ou é chapa branca. Entenda como você quiser.
O que você teria que ceder para ser candidato para a CBF?
Não é isso. Vamos ver o que vai acontecer, tem muita gente na minha frente. Sei que meu nome é forte, mas palavra de honra que não tem nada. Se eu for, vai ser algo muito natural.
Você disse que apoia qualquer um contra Marco Polo…
Qualquer um!
E se não tiver mais ninguém? Senta e chora?
Quem não concordar, chora. Você vê outra solução?