Comentaristas: falta de Copa não diminui Zico
Mauro Beting citou que Zico foi um gênio da bola
Quanto vale um título de Copa do Mundo na carreira de um jogador? Aos 60 anos, completados neste domingo, Arthur Antunes Coimbra - o Zico - até hoje não consegue escapar do fato de não ter conquistado um Mundial. Embora reconhecido como um dos maiores jogadores da história do futebol, a ressalva sempre o acompanha. Para os comentaristas da Band Mauro Beting e Cláudio Zaidan, no entanto, a ausência de uma Copa não diminui em nada a majestade do Galinho como atleta.
“O Zico poderia ter sido muito mais, e foi. Fazer o que ele fez na Itália, ser vice-artilheiro jogando pela Udinese, contra uma Juventus de Platini, na época o maior time do mundo, não é pouca coisa. Poderia ter sido mais reconhecido. Mas o que ele já fez... Pego a palavra de um grande colega meu, o Fernando Calazans, ‘o Zico não ganhou uma Copa do Mundo, azar da Copa do Mundo’. Não ganhar uma Copa do Mundo não significa grande coisa”, analisa Mauro, um dos autores do livro "1981", obra sobre a equipe comandada por Zico há pouco mais de 30 anos.
"A Copa do Mundo é um torneio curto. O Zico foi em 78, 82 e 86. Eram times bons. Não só o de 82, que é muito falado porque jogou muito bem -sobretudo contra a Argentina -, mas os outros times eram bons. Mas é um torneio curto. Não é uma competição individual, que o cara depende só dele. Depende do time e do momento. Um jogador não pode ter sua carreira qualificada, medida, rotulado pelo fato de ter ganhado ou não uma Copa do Mundo. Não há dúvida que a Copa é a maior competição, mas não ganhá-la não tira um milímetro da história de um jogador. Para mim o Zico foi um supercraque, independentemente de não ter ganhado uma Copa", opina Zaidan.
Sem esconderem em seus olhares a admiração por Zico, os dois comentaristas citam uma série de craques que nunca conquistaram um Mundial na carreira, mas nem por isso tiveram carreiras com menos brilho. Yashin, Leandro, Júnior, Marinho Chagas, Figueroa, Pedro Rocha, Platini, Cruyff, Di Stéfano, Puskas, Leônidas da Silva, Zizinho, Domingos da Guia e Schmeichel foram alguns dos lembrados. Pensando mais recentemente, até Lionel Messi pode ser incluído na lista, ao menos por enquanto.
"Esses caras não ganharam Copa do Mundo. Foram jogadores extraordinários, ninguém discute. Pode acontecer, por exemplo, de o Messi não ganhar uma Copa. E daí? A gente vai dizer que ele não foi bom? É extraordinário, um supercraque", questiona Zaidan.
"O Zico foi um craque excepcional. Ele foi um jogador realmente de qualidades incomuns, como jogador e profissional. Um cara que foi vice-artilheiro na Itália com a Udinese, lembrando que o Platini foi o artilheiro com a Juventus, que era uma máquina", completa.
Messi do passado
Eleito o melhor jogador do mundo nos últimos quatro anos, Messi não é motivo de comparação com Zico apenas pela falta de uma Copa. Mauro Beting vê no argentino muitas qualidades e características do Galinho. Comparação que nem Zico foge.
"O Zico era o grande craque daquele time campeão do mundo, foi um dos grandes jogadores criados na Gávea. O Zico era um cara que fez status, que ainda hoje se discute porque é próprio do futebol, se discute até o Pelé e hoje o Messi - que tem muitas semelhanças com ele, admitidas pelo próprio Galinho", diz.
'Craque do Maracanã'?
Muitas vezes na carreira, Zico foi tido pela imprensa e por torcedores como um jogador que desequilibrava apenas diante da torcida do Flamengo, o que resultou no rótulo de 'Craque do Maracanã'. Críticas completamente injustas, na visão de Cláudio Zaidan e Mauro Beting.
"Era um negócio sem pé nem cabeça. Ele jogava bem quase sempre. É o maior artilheiro da história do Flamengo, e o jogador mais importante da história do clube", afirma Zaidan.
"Foi um estigma absurdo criado pela imprensa de São Paulo, à época muito mais bairrista que a de hoje. Como se fosse pouca coisa ser o craque do Maracanã. Ser o camisa 10 do Flamengo com a pressão que era, montar o maior time que eu vi jogar no Brasil desde que eu vou a estádios e estúdios, nunca vi nada mais lindo que o Flamengo de 81 e do início de 82. O cara foi o craque do Maracanã, é o maior artilheiro da história do estádio, o maior ídolo e craque do clube mais popular do país pentacampeão mundial. Então esse cara tem alguma história. É um gênio como pessoa e atleta", elogia Mauro.
Para Mauro Beting, qualquer tipo de coisa que tentava diminuir Zico era fruto da rivalidade entre os clubes. "Tem muito do clubismo. A torcida do Flamengo é a maior do Brasil, mas uma das maiores torcidas também é a anti-flamenguista. Faz parte. Essa torcida vai atazanar o grande ídolo. Mas mesmo assim, no fundo quem é Vasco, Botafogo, Fluminense ou outros clubes do Brasil adoraria não ter só um exemplo de atleta, mas também um exemplo de pessoa defendendo suas cores", avalia.
Zaidan acredita que qualquer tipo de crítica ao Galinho ficou no passado. "Não [é injustiçado]. Acho que as pessoas reconhecem. Talvez na época em que o Zico jogava havia essa crítica improcedente. Hoje acho que não. As pessoas olham em retrospectiva e reconhecem que ele foi um craque extraordinário. Não acho que as pessoas não reconhecem o valor do Zico. Já há um reconhecimento maior de que o Zico também na Seleção foi um jogador extraordinário. Talvez o Zico fosse visto de outra maneira na seleção brasileira se tivesse este título. Mas acho que hoje as pessoas têm um olhar mais correto sobre o que foi o Zico", afirma.
Agradecimentos e um 'Zico 40 anos mais novo'
Questionados sobre o que dariam de presente para o aniversariante deste domingo, os comentaristas mais uma vez rasgaram elogios ao ex-jogador, tanto no aspecto profissional como pessoal, e deixaram suas mensagens. Sobraram agradecimentos e um desejo inusitado: Zico de volta ao futebol.
"O que a gente pode entregar sempre para o Zico é exatamente o agradecimento pelo o que ele representou para o futebol brasileiro durante duas décadas. Que ele saiba que não ter ganho Copa do Mundo não altera nada, que a gente o reconhece como um dos maiores da história", parabeniza Zaidan.
"Além de ligar para o Galinho, eu daria um presente não só para o Zico, mas para todos nós. Daria 40 anos a menos para ele poder voltar a jogar. Ele é um cara que quando eu me separei, quando meu pai morreu, era o primeiro a me ligar para conversar. Parabéns para o Zico, que é um Zico de pessoa, um Zico de craque. Eu tive o privilégio de trabalhar com ele, apresentar um programa ao lado dele. Você ser parceiro, colega profissional do Zico é um espetáculo. Quero registrar sempre que eu nunca tive em quase 26 anos de jornalismo nenhum colega mais jovem de trabalho que tivesse a humildade que tem o Zico. É a humildade e o caráter que a gente imagina, mas é bilhões de vezes maior", encerra Mauro
“O Zico poderia ter sido muito mais, e foi. Fazer o que ele fez na Itália, ser vice-artilheiro jogando pela Udinese, contra uma Juventus de Platini, na época o maior time do mundo, não é pouca coisa. Poderia ter sido mais reconhecido. Mas o que ele já fez... Pego a palavra de um grande colega meu, o Fernando Calazans, ‘o Zico não ganhou uma Copa do Mundo, azar da Copa do Mundo’. Não ganhar uma Copa do Mundo não significa grande coisa”, analisa Mauro, um dos autores do livro "1981", obra sobre a equipe comandada por Zico há pouco mais de 30 anos.
"A Copa do Mundo é um torneio curto. O Zico foi em 78, 82 e 86. Eram times bons. Não só o de 82, que é muito falado porque jogou muito bem -sobretudo contra a Argentina -, mas os outros times eram bons. Mas é um torneio curto. Não é uma competição individual, que o cara depende só dele. Depende do time e do momento. Um jogador não pode ter sua carreira qualificada, medida, rotulado pelo fato de ter ganhado ou não uma Copa do Mundo. Não há dúvida que a Copa é a maior competição, mas não ganhá-la não tira um milímetro da história de um jogador. Para mim o Zico foi um supercraque, independentemente de não ter ganhado uma Copa", opina Zaidan.
Sem esconderem em seus olhares a admiração por Zico, os dois comentaristas citam uma série de craques que nunca conquistaram um Mundial na carreira, mas nem por isso tiveram carreiras com menos brilho. Yashin, Leandro, Júnior, Marinho Chagas, Figueroa, Pedro Rocha, Platini, Cruyff, Di Stéfano, Puskas, Leônidas da Silva, Zizinho, Domingos da Guia e Schmeichel foram alguns dos lembrados. Pensando mais recentemente, até Lionel Messi pode ser incluído na lista, ao menos por enquanto.
"Esses caras não ganharam Copa do Mundo. Foram jogadores extraordinários, ninguém discute. Pode acontecer, por exemplo, de o Messi não ganhar uma Copa. E daí? A gente vai dizer que ele não foi bom? É extraordinário, um supercraque", questiona Zaidan.
"O Zico foi um craque excepcional. Ele foi um jogador realmente de qualidades incomuns, como jogador e profissional. Um cara que foi vice-artilheiro na Itália com a Udinese, lembrando que o Platini foi o artilheiro com a Juventus, que era uma máquina", completa.
Messi do passado
Eleito o melhor jogador do mundo nos últimos quatro anos, Messi não é motivo de comparação com Zico apenas pela falta de uma Copa. Mauro Beting vê no argentino muitas qualidades e características do Galinho. Comparação que nem Zico foge.
"O Zico era o grande craque daquele time campeão do mundo, foi um dos grandes jogadores criados na Gávea. O Zico era um cara que fez status, que ainda hoje se discute porque é próprio do futebol, se discute até o Pelé e hoje o Messi - que tem muitas semelhanças com ele, admitidas pelo próprio Galinho", diz.
'Craque do Maracanã'?
Muitas vezes na carreira, Zico foi tido pela imprensa e por torcedores como um jogador que desequilibrava apenas diante da torcida do Flamengo, o que resultou no rótulo de 'Craque do Maracanã'. Críticas completamente injustas, na visão de Cláudio Zaidan e Mauro Beting.
"Era um negócio sem pé nem cabeça. Ele jogava bem quase sempre. É o maior artilheiro da história do Flamengo, e o jogador mais importante da história do clube", afirma Zaidan.
"Foi um estigma absurdo criado pela imprensa de São Paulo, à época muito mais bairrista que a de hoje. Como se fosse pouca coisa ser o craque do Maracanã. Ser o camisa 10 do Flamengo com a pressão que era, montar o maior time que eu vi jogar no Brasil desde que eu vou a estádios e estúdios, nunca vi nada mais lindo que o Flamengo de 81 e do início de 82. O cara foi o craque do Maracanã, é o maior artilheiro da história do estádio, o maior ídolo e craque do clube mais popular do país pentacampeão mundial. Então esse cara tem alguma história. É um gênio como pessoa e atleta", elogia Mauro.
Para Mauro Beting, qualquer tipo de coisa que tentava diminuir Zico era fruto da rivalidade entre os clubes. "Tem muito do clubismo. A torcida do Flamengo é a maior do Brasil, mas uma das maiores torcidas também é a anti-flamenguista. Faz parte. Essa torcida vai atazanar o grande ídolo. Mas mesmo assim, no fundo quem é Vasco, Botafogo, Fluminense ou outros clubes do Brasil adoraria não ter só um exemplo de atleta, mas também um exemplo de pessoa defendendo suas cores", avalia.
Zaidan acredita que qualquer tipo de crítica ao Galinho ficou no passado. "Não [é injustiçado]. Acho que as pessoas reconhecem. Talvez na época em que o Zico jogava havia essa crítica improcedente. Hoje acho que não. As pessoas olham em retrospectiva e reconhecem que ele foi um craque extraordinário. Não acho que as pessoas não reconhecem o valor do Zico. Já há um reconhecimento maior de que o Zico também na Seleção foi um jogador extraordinário. Talvez o Zico fosse visto de outra maneira na seleção brasileira se tivesse este título. Mas acho que hoje as pessoas têm um olhar mais correto sobre o que foi o Zico", afirma.
Agradecimentos e um 'Zico 40 anos mais novo'
Questionados sobre o que dariam de presente para o aniversariante deste domingo, os comentaristas mais uma vez rasgaram elogios ao ex-jogador, tanto no aspecto profissional como pessoal, e deixaram suas mensagens. Sobraram agradecimentos e um desejo inusitado: Zico de volta ao futebol.
"O que a gente pode entregar sempre para o Zico é exatamente o agradecimento pelo o que ele representou para o futebol brasileiro durante duas décadas. Que ele saiba que não ter ganho Copa do Mundo não altera nada, que a gente o reconhece como um dos maiores da história", parabeniza Zaidan.
"Além de ligar para o Galinho, eu daria um presente não só para o Zico, mas para todos nós. Daria 40 anos a menos para ele poder voltar a jogar. Ele é um cara que quando eu me separei, quando meu pai morreu, era o primeiro a me ligar para conversar. Parabéns para o Zico, que é um Zico de pessoa, um Zico de craque. Eu tive o privilégio de trabalhar com ele, apresentar um programa ao lado dele. Você ser parceiro, colega profissional do Zico é um espetáculo. Quero registrar sempre que eu nunca tive em quase 26 anos de jornalismo nenhum colega mais jovem de trabalho que tivesse a humildade que tem o Zico. É a humildade e o caráter que a gente imagina, mas é bilhões de vezes maior", encerra Mauro