O posicionamento inicial de Oscar e Kaká como meias abertos e Neymar por dentro ...
Olho Tático
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Mas também provocou pergunta inevitável dentro da cultura do futebol brasileiro e diante da má atuação da seleção: "por que não voltar ao tradicional esquema com dois volantes, dois meias e dois atacantes?"
O discurso contra a "ditadura" do 4-2-3-1 nos times brasileiros e também na seleção não é novo, ainda mais em um período no qual os resultados não a sustentam. Normalmente é tratada como uma mera cópia sem senso crítico do futebol europeu.
Então por que a execução do 4-2-2-2 - esquema tipicamente brasileiro, praticamente o único modelo nos anos 1990 e ainda hoje base tática de quase todas as emissoras de TV do país quando divulgam as escalações antes dos jogos foi abandonada pelos treinadores das principais equipes?
"Com o quadrado no meio, o time não tem um meia pelo lado marcando e o adversário faz dois contra o lateral na virada de jogo. Além disso, hoje os volantes têm que criar e os meias precisam defender. No 4-2-2-2, os volantes marcam para os meias só criarem, não funciona", resume Abel Braga, treinador do Fluminense.
O futebol mudou. Intensidade, pressão e compactação não são estrangeirismos, muito menos termos vazios que são usados apenas para impressionar incautos. Sem elas não há jogo em alto nível. E não são novidades. Eram os pilares da proposta de jogo da Holanda de Rinus Michels em 1974.
Vanderlei Luxemburgo costuma dizer que o Brasil de 1970 é a referência do futebol até hoje porque ninguém conseguiu copiar a "Laranja Mecânica". Pep Guardiola, discípulo de Johan Cruyff, não imitou, mas atualizou as ideias de Michels dentro da filosofia do Barcelona e dos novos métodos de preparação física e mexeu com as estruturas do esporte.
Desde 2008, o Barcelona e a Espanha com estilo mais horizontal e de posse de bola e o contraponto nas equipes de José Mourinho e na Alemanha mais verticais e de transição rápida mudaram a dinâmica.
Jogando em pouco mais de 30 metros de campo, pressionado, sem tempo para pensar e dependendo das inversões rápidas de lado para surpreender o adversário, não há como uma equipe atuar com defesa, volantes, meias e atacantes tão espaçados como no 4-2-2-2, muito menos em ritmo tão cadenciado.
O primeiro time a atuar com este desenho que se tem notícia foi o Cruzeiro de 1969. Tostão e Dirceu Lopes criavam e apareciam no centro do ataque se juntando aos ponteiros Natal e Rodrigues. Mas foi o sucesso do Brasil de 1970, com o recuo de Rivelino pela esquerda como "falso ponta", a semente para a formação do quadrado no meio-campo.
A maioria das equipes passou a atuar com um volante mais marcador e o meia-armador jogadores como Ailton Lira, Delei e Pita, que articulavam a saída de bola quase lado a lado e o ponta que centralizava se juntando ao ponta-de-lança para se aproximar do ponteiro mais agudo e do centroavante. Assim a seleção disputou as Copas de 1974 e 1978 com Dirceu como "quarto homem" do meio e Rivelino voltando para armar as jogadas.
Com o tempo, as equipes passaram a padronizar uma maneira de jogar: laterais apoiando praticamente como alas, um volante mais marcador e outro que sai para o jogo, meias com liberdade de movimentação, uma referência na frente e um atacante de movimentação.
No ataque, criação concentrada nos meias um recua para articular, outro aprofunda quase como terceiro atacante. Laterais e atacante de movimentação jogando abertos como opções para dar profundidade. Um volante ajudando o meia que volta na armação e outro bem recuado, auxiliando os zagueiros na cobertura.
Exemplos não faltam, especialmente nos anos 1990. O São Paulo multicampeão de Telê Santana em vários momentos , a máquina do Palmeiras com Luxemburgo em 1996 e o Botafogo campeão brasileiro de 1995 com Paulo Autuori atuavam no 4-2-2-2, com variações naturais pelas características dos jogadores.
A equipe, porém, que se mostrou mais competitiva foi o Grêmio de Felipão campeão da Libertadores em 1995. Curiosamente (ou não), em um desenho muito próximo do 4-2-3-1 atual. Dinho e Luís Carlos Goiano à frente de Arce, Adilson, Rivarola e Roger; Arílson mais centralizado ao lado de Carlos Miguel e Paulo Nunes recuando à direita, formando praticamente um trio atrás de Jardel.
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O 4-2-2-2 do Grêmio de Scolari em 1995 tinha dinâmica semelhante a do 4-2-3-1 com Paulo Nunes voltando pela direita e deixando Jardel na frente.
Como em qualquer esquema, tudo depende da execução. Mas, em linhas gerais, é um sistema que depende de meias e laterais e sacrifica demais os volantes.
"O time precisa atacar quase sempre com os dois laterais ao mesmo tempo para criar opção de uma virada de jogo. Com isso, ou os volantes abrem para cobrir e deixam o meio descoberto ou correm para a própria área fechar o meio que o zagueiro abandonou para cobrir o lateral. Como os meias marcam pouco, os volantes adversários ficam com campo livre. Sem contar que é praticamente impossível compactar as linhas", explica Cristóvão Borges, ex-técnico do Vasco.
O primeiro grande insucesso brasileiro com o esquema foi a derrota na final da Copa de 1998 para a França. Além do "Caso Ronaldo", Zidane pulverizou o Brasil já no primeiro tempo do Stade de France com duas cabeçadas. Mas o técnico Aimé Jacquet já havia travado o jogo brasileiro com Karembeu e Petit voltando com Cafu e Roberto Carlos e sufocando a saída dos zagueiros e de Dunga, volante mais plantado que liberava César Sampaio.
Reprodução TV Globo
Flagrante de Karembeu voltando com Roberto Carlos e Petit pronto para sair em Cafu na marcação adiantada da França sobre o Brasil em 1998.
O fracasso retumbante do "quadrado mágico" de Parreira com Kaká, Ronaldinho, Adriano e Ronaldo em 2006 com fracas atuações na Copa da Alemanha e outro revés incontestável para os franceses, no 4-2-3-1, foi o suspiro final.
Para transformar o esquema, os treinadores passaram a apelar para os "volantes-zagueiros", flexibilizando o desenho. Primeiro Antonio Lopes, ainda em 1997, recuando Nasa no Vasco para cobrir Felipe e garantir a sobra com Mauro Galvão. O mesmo fez Joel Santana em 2007 com Rômulo, depois Jaílton, resguardando Fabio Luciano e liberando Léo Moura e Juan. Contra um atacante, apenas dois zagueiros. Diante de dois avantes, três atrás.
Luxemburgo foi bem sucedido com o 4-3-1-2 no Cruzeiro e no Santos e Muricy Ramalho com três zagueiros alternando para duas linhas de quatro em 2007 com Breno saindo da zaga e se transformando em lateral no São Paulo. Dunga e Jorginho lançaram o 4-2-3-1 "torto" na seleção em 2009. Santos campeão da Libertadores em 2011 e Palmeiras de Scolari que venceu a Copa do Brasil no ano passado atuaram no mesmo esquema.
Tite consolidou o 4-2-3-1 com marcação por zona, linhas compactas e intensidade. Campeão nacional, da Libertadores e Mundial. Fluminense campeão brasileiro no 4-3-3. São Paulo vencedor da Sul-Americana e o Atlético-MG melhor time do torneio sul-americano em 2013 no mesmo 4-2-3-1.
Não é acaso. Muito menos uma moda ou consequência de um momento de baixa do futebol brasileiro. O 4-2-2-2 ficou mesmo no passado. Ao menos na sua execução tradicional.
Porque Luxemburgo encontrou no Grêmio uma solução viável para manter o sistema no Brasil. Sem a bola, Elano e Zé Roberto voltam com Fernando e Souza formando uma segunda linha de quatro à frente da defesa. Na transição ofensiva, os meias ganham liberdade para articular e se juntar a Vargas e Barcos. 4-4-2 na recomposição, meio em quadrado com movimentação e variações ao atacar.
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Grêmio de Luxemburgo fechando com duas linhas de quatro e saindo com Elano e Zé Roberto livres para articular.
Abel Braga, adversário do time gaúcho na Libertadores, e Cristóvão concordam que é a única maneira de adaptar o esquema à dinâmica atual. Roberto Mancini foi o primeiro a trabalhar desta forma no Manchester City campeão inglês. Nasri e Silva eram os meias que voltam pelos lados ajudando os centrais Barry e Yaya Touré.
Na seleção de Scolari, as linhas de quatro do empate com a Itália podem ser repetidas. Com Lucas ou mesmo Ramires à direita e Oscar do lado oposto, liberando Neymar como atacante ao lado de Fred. Bola roubada, um pouco de movimentação é recomendável. Até para liberar o apoio alternado de Daniel Alves e Marcelo e permitir que Neymar eventualmente apareça pela esquerda e Oscar centralize para pensar o jogo brasileiro.
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Felipão pode voltar a usar o 4-4-2 no futuro, mas com Lucas à direita e Oscar trocando com Neymar à esquerda e pelo meio.
Mas sem fugir da tríade intensidade-pressão-compactação. Nem lei, nem dogma. Apenas a solução mais racional para ser competitivo no futebol atual.