Quase quarentões, ginastas desafiam juventude e lesões da ginástica em Londres: "velhos?"

Jordan Jovtchev, de 39 anos, compete na prova olímpica das argolas, na ginástica artística 
  Jordan Jovtchev, de 39 anos, compete na prova olímpica das argolas, na ginástica artística

O cabelo grisalho de Jordan Jovtchev pode enganar os mais desavisados. Prestes a fazer 40 anos, o búlgaro, quando passeia na Vila Olímpica, deve deixar a impressão de que se trata de um técnico caminhando em direção aos seus atletas. Mas não. Ele e a também ginasta uzbeque naturalizada alemã Oksana Chusovitina, de 37 anos, fazem parte do grupo de "tiozões" dos Jogos Olímpicos de Londres, com o detalhe de estar em uma das modalidades em que a tendência é justamente a de os competidores serem cada vez mais jovens.
Pode parecer estranho para quem vê de fora, mas não para eles: "Velha, eu? Não estou fazendo nada de fantástico, sou igual às outras", explicou Chusovitina em entrevista ao The New York Times.
A ginástica já teve polêmicas até de fraude em documentos para que atletas mais jovens que o legal possam competir. No caso deles, são quase duas décadas que os separam dos novos talentos.
Por exemplo, a idade média do time dos EUA é de apenas 16 anos - o limite permitido. Muitos ginastas desta Olimpíada não eram nem nascidos quando a então uzbeque foi campeã juvenil em seu país, em 1988, ainda como União Soviética, e outros também nem tinham chegado a este mundo quando ela foi campeã olímpica em Barcelona-1992, na disputa por equipes. Agora representante da Alemanha devido a desentendimentos com seu país, Chusovitina veio de uma prata em Pequim-2008 no salto para sua sexta Olimpíada.
A dupla teve de vencer não só a competição com os mais jovens, mas um obstáculo que encerra muitas carreiras: a alta incidência de lesões. Com a idade avançada, os ligamentos ficam comprometidos e a diminuição da elasticidade prejudica a perfo
Tricampeão olímpico pelos EUA, John Roethlisberger admite a surpresa. "Acho incrível. Eles devem ser pessoas com 'aberrações' genéticas e que encontraram um modo de treinar neste nível e ainda ficar longe de lesões graves".
Pelo lado de Jovtchev, que inclusive foi porta-bandeira da Bulgária na cerimônia de abertura dos Jogos de Londres, o aniversário de 40 anos se aproxima e ele assopra as velinhas em fevereiro. Ainda assim, foi um dos que se classificou para a final nas argolas, nas eliminatórias de sábado. As lesões não foram dribladas por ele, elas têm de ser suportadas.
Um dos sacrifícios está na própria preparação, já que o búlgaro treina apenas 90 minutos por semana, para evitar contusões, e ainda assim está com um problema no pulso em Londres. Obviamente sua performance fica afetada em relação a quem treina duas ou três sessões diárias para os Jogos.
"É muito difícil. Meu corpo fica aos pedaços se eu treinar duro demais. Então, tenho de encontrar o equilíbrio, algo que é muito tênue", explica o veterano, em sua sexta Olimpíada e em busca de sua quinta medalha. "A ginástica é um esporte doloroso."
Chusovitina, que avançou à final de salto com a quarta melhor nota, dá sua visão de em que a idade lhe favorece. "Agora é mais fácil, eu penso como uma adulta, sou mais inteligente. Eu sei como me forçar até o limite", explica a alemã, que no ano passado foi medalhista de prata no Mundial, perdendo para McKayla Maroney, norte-americana de apenas 15 anos.
Maroney é pouco mais velha que o próprio filho de Chusovitina, que pela primeira vez acompanha a mãe nas Olimpíadas. O objetivo da veterana é conquistar sua última medalha, dar adeus às competições e se dedicar à carreira de técnica. Mas sempre agradecendo ao que viveu desde os sete anos no esporte. ?Sou feliz porque, junto ao meu filho, a ginástica é o que me manteve jovem.?