"Telê Santana no centro da rodada dos atletas"
Especial - 30 anos da seleção de 82: O ano em que o time engrenouSÃO PAULO - O início de 1981 reservava um grande desafio para a Seleção de Telê. Para comemorar os 50 anos da realização da primeira Copa do Mundo, o Uruguai organizou um torneio que foi chamado de Mundialito. A intenção era reunir os seis países que tinham sido campeões mundiais (Uruguai, Brasil, Argentina, Alemanha, Itália e Inglaterra), mas os ingleses declinaram do convite e foram substituídos pela Holanda – vice-campeã em 1974 e 1978.
O Brasil estava no Grupo B, junto com Alemanha e Argentina. E chegou a Montevidéu sem três jogadores talentosos. Dois estavam fora de combate por causa de lesões musculares (Zico e Reinaldo), e Falcão não havia sido liberado pela Roma.
A estreia foi contra os argentinos, que tinham sido campeões do mundo em 78 e contavam com um genial camisa 10 de 20 anos chamado Diego Maradona. O jogo acabou 1 a 1, e o Brasil jogou com Carlos (João Leite); Edevaldo, Oscar, Luizinho e Júnior; Batista, Cerezo e Renato (Paulo Isidoro); Tita, Sócrates e Zé Sérgio. Maradona colocou a Argentina em vantagem e Edevaldo empatou. Telê gostou do que viu, e não se mostrava preocupado com a obrigação de ter de ganhar da Alemanha por dois gols de diferença para ir à final – a Argentina tinha batido os alemães por 2 a 1.
"Temos condições de ganhar de qualquer adversário por 2 a 0 ou mais. Essa obrigação é melhor do que depender do resultado de outra equipe. Outros times podem ter o direito de ser um pouco mais ou um pouco menos ofensivos, mas o meu, não. Jogamos sempre em busca do gol."
Contra a Alemanha houve duas mudanças na escalação: João Leite no lugar de Carlos (cortado por contusão) e Paulo Isidoro no de Renato. E o que se viu foi um time avassalador, que não teve dó da então campeã europeia. Vitória de virada por 4 a 1 (gols de Júnior, Cerezo, Serginho e Zé Sérgio) e vaga garantida para enfrentar o Uruguai na final.
As boas atuações contra as duas equipes que eram consideradas as mais fortes do torneio deram crédito a Telê. E a esperança de ter uma Seleção em condição de lutar pelo título mundial dali a a um ano e meio crescia entre os torcedores.
A derrota por 2 a 1 para o Uruguai na decisão (gol de Sócrates cobrando pênalti), com uma atuação bem abaixo das anteriores, foi frustrante. Mas não havia tempo para lamentações, porque menos de um mês depois começariam as Eliminatórias. Os adversários seriam as fracas Bolívia e Venezuela, mas era preciso jogar bem.
Como era de se esperar, o Brasil se classificou com facilidade para o Mundial, com quatro vitórias, 11 gols marcados e dois sofridos. A dúvida era: como o time se comportaria quando voltasse a enfrentar seleções de primeira linha? A resposta não demorou.
Em maio o time embarcou para enfrentar três grandes europeus entre os dias 12 e 19. O primeiro jogo seria contra a Inglaterra em Wembley, o segundo contra a França no Parque dos Príncipes e o terceiro contra a Alemanha em Stuttgart. Desde o primeiro jogo estava desenhado o esboço do formato que a Seleção teria na Copa. O meio de campo com Cerezo, Sócrates, Zico e Paulo Isidoro só mudaria com a chegada de Falcão – que tomaria a vaga de Isidoro.
Com um gol de Zico, o Brasil derrotou a Inglaterra por 1 a 0. Foi a primeira vitória de uma seleção sul-americana em Wembley. Na segunda partida, um passeio nos franceses: 3 a 1, gols de Zico, Reinaldo e Sócrates (com direito a chapéu no goleiro). E o gran finale foi a vitória de virada sobre a Alemanha por 2 a 1, gols de Cerezo e Júnior – e Valdir Peres pegou duas cobranças de pênalti de Breitner.
O desempenho do time assustou os europeus, a ponto de o técnico José Santamaria, da Espanha, ter dito o seguinte: "Se continuar jogando assim, o Brasil será campeão do mundo."
Vavá, bicampeão em 58 e 62 e auxiliar de Telê, exaltava o trabalho do chefe. E alfinetava o antecessor: "Este é o nosso futebol. Antes quiseram imitar o futebol dos europeus e colocaram na Seleção gente sem o menor conhecimento nem vivência. Com o Telê isso acabou."
(Nesta terça: a entrada de Falcão no time, o corte por contusão de Careca a poucos dias da Copa e as três vitórias na primeira fase)